Surra de Cama - Quem diz que as Mulheres Gostam?
Foi uma moça americana quem me disse, no meio de uma festa, que os
homens brasileiros tinham mania de transar demorado. Em vez de fazer
sexo de um jeito gostoso e rápido – que ela considerava ideal - seu
namorado brasileiro não parava enquanto ela não estivesse exausta e
irritada. “Numa noite especial, de vez em quando, tudo bem”, ela me
disse, cheia de impaciência. “Mas, a toda hora... Eu não sou
maratonista.”
Para que fique claro, ela não se queixava de longas e minuciosas
preliminares.
Reclamava do tempo excessivo de penetração, que ela
considerava apenas uma exibição de vigor da parte dele. Ao final da
festa, todo mundo bêbado, ela ainda voltou ao assunto e me perguntou se
os brasileiros eram todos assim, exibicionistas.
Constrangido e ofendido
nos brios nacionais, eu respondi, encerrando a conversa, que não fazia a
menor ideia.
Esse diálogo ocorreu faz tempo. Na hora, eu achei, com alguma razão,
que era conversa de gringa, choque cultural e tal, mas o comentário
ficou gravado.
Desde então, toda vez que um amigo se gaba – como os
homens fatalmente fazem – de ter dado “uma surra de cama” numa garota,
dentro de mim uma voz sarcástica pergunta: “E ela, gostou?”
Antes de prosseguir, uma informação em benefício das mulheres: os
homens são terrivelmente solitários quando se trata de sexo. Embora
gastem um tempo enorme falando do assunto, eles não trocam informações
verdadeiras.
Enquanto as mulheres conversam sobre as suas dificuldades,
os homens relatam ao bando apenas os seus triunfos, reais ou
imaginários.
O resultado é que existem dois mundos opostos na cabeça
masculina, quando se trata de sexo. Um é feito de performances medianas,
vexames e glória eventual.
É o mundo da experiência verdadeira, íntima.
O outro mundo, repleto de conquistas épicas e ereções olímpicas, é o do
relato mitológico dos outros.
Qual é a realidade coletiva? Não faço
ideia. Sei que na cama, como diria Fernando Pessoa, somos todos
príncipes. Quem salva os homens da completa desinformação em relação ao sexo são
as mulheres. Elas nos relatam, em geral de forma indireta, o que
acontece na intimidade delas e dos outros homens.
Como não estão
comprometidas em contar vantagem, nem preocupadas em destruir
reputações, (exceto em uma ou outra ocasião...), vêm delas bons relatos.
E opiniões menos apaixonadas. Por isso decidi, na semana passada,
esclarecer diretamente com elas a história das transas demoradas:
afinal, isso é bom para elas ou não é?
Minha pequena amostra, colhida entre mulheres de idades e situações
conjugais distintas, sugere que o empenho dos homens em esticar aquele
momento ao máximo pode ser inútil.
Várias mulheres dizem detestar sexo prolongado: “Enquanto o cara está
lá, se achando o máximo, eu fico pensando, ‘meu deus, acaba logo com
isso’”.
Outras dizem gostar apenas de preliminares demoradas: “Elas são
importantes e deliciosas”. Poucas afirmam gostar de “trepadas
quilométricas”, com recordes de penetração. “No começo de um
relacionamento ou empolgada com um flerte, é legal”, me disse uma. Mesmo
quem gosta muito, faz ressalvas: “Tem de ter intensidade, sentimento.
Não pode ser uma coisa mecânica”.
É quase unânime a opinião entre as mulheres que os homens estão se
empenhando exageradamente por desinformação. “Acho que teve tanto
marketing nas revistas femininas para combater a ejaculação precoce que a
história virou para o outro lado”, me escreveu uma amiga. “Hoje, os
caras vão para a cama como quem vai para um teste de resistência.” Ela
me disse que a tendência é tão forte que as garotas começam a regular
sexo por achar que o parceiro está esperando uma maratona – e elas não
se sentem fisicamente preparadas.
Outra coisa que fica nítida nessas conversas é o apego das mulheres por
experiência emocionais durante o sexo, não somente físicas. Homens que
não gozam privam a parceira de uma sensação importante de satisfação.
Aqueles que gozam e depois se dedicam ao orgasmo dela ganham pontos na
categoria da solidariedade erótica.
Quem consegue gozar ao mesmo tempo
em que elas, leva para casa um troféu de enorme valor por sintonia.
Sentimentos, rapaz, sentimentos...
Claro, essas coisas variam de casal para casal. Quem gosta de um jeito
com fulano pode gostar de outro com sicrano. É preciso explorar as
possibilidades, no limite do temperamento de cada um.
As regras são
flexíveis, mas existe uma coisa chamada personalidade sexual. A
Alguns curtem sexo intensamente e são capazes de transar por horas.
Alguns curtem sexo intensamente e são capazes de transar por horas.
Outros
gostam ainda mais, mas concentram seu prazer em espasmos curtos.
Há os
que se interessam menos pelo assunto.
Sexo, afinal, é diversidade, como tudo na vida. Muitos adoram correr,
tantos detestam. Uns têm enorme capacidade de concentração, outros se
distraem com facilidade.
Há pessoas gulosas e aquelas naturalmente
comedidas. Se as pessoas são diferentes em tudo, não é de esperar que se
comportem da mesma forma na cama - a não ser que estejam tentando
imitar um padrão, o que constitui enorme besteira.
Um dos segredos
públicos do sexo feliz é a necessidade de descobrir seu próprio jeito de
ter prazer. Mas isso leva tempo e implica, necessariamente, em pôr de
lado estereótipos e modelos.
Para os homens não é fácil. Desde que a gente é garoto, tem sempre um
sabichão disposto a explicar do que as mulheres realmente gostam. Essas
conversas prematuras e desinformadas, que envolvem quantidades
imensuráveis de mentiras, tendem a encher nossa cabeça de lixo. Demora a
livrar-se delas e descobrir, na prática do sexo, no afeto das relações,
o que é bom e ruim, para nós e para elas. Na verdade, é um trabalho
para a vida inteira.
Da minha parte, gosto de pensar em sexo como um trem em movimento.
O orgasmo é uma estação onde todo mundo quer descer, de preferência juntos.
Nem sempre dá.
O orgasmo é uma estação onde todo mundo quer descer, de preferência juntos.
Nem sempre dá.
Em geral nós, homens, desembarcamos primeiro, e
temos de esperar, cheios de dedos, pelo vagão da mulher, que vem lá
atrás.
Com a prática e as preliminares, a ordem se inverte: ela desce do
trem primeiro, depois nos ajuda com a nossa bagagem. De um jeito ou de
outro, o tempo da viagem é menos importante que chegar ao destino.
Quando os dois estão na plataforma, felizes, pode-se fazer
qualquer outra coisa: passear, ler, dormir, comer. O trem do sexo,
afinal, vai estar lá à nossa espera, toda vez que quisermos viajar.
Fonte: Revista Época - Ivan Martins
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